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A divisão do território do Estado de Mato Grosso em 1977: antecedentes históricos, motivações e oficialização

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29/11/2024
A divisão do território do Estado de Mato Grosso em 1977: antecedentes históricos, motivações e oficialização

Quando surgiu a alvorada no dia 1º de janeiro de 1979, algo de extrema importância ocorria em Mato Grosso. Por conta da Lei Complementar nº 31, assinada pelo Presidente da República General Ernesto Geisel (1974-1979) no dia 11 de outubro de 1977, Mato Grosso teve o seu extenso território dividido, extraído dele aproximadamente 350 mil quilômetros quadrados, que foram destinados a um novo Estado brasileiro, de nome Mato Grosso do Sul. Por conta do amplo conteúdo acerca do acontecimento ,dividirei o tema em dois artigos, sendo que o primeiro abordará os antecedentes do divisionismo, as motivações da divisão e sua oficialização, e o segundo retratará o remanescente Mato Grosso, em especial a cidade de Cuiabá, diante do acontecimento, com a perspectiva dos vereadores da 10ª Legislatura da Câmara Municipal de Cuiabá (1977-1982) e os cuiabanos que presenciaram a divisão.

&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp Inicialmente é importante perceber as históricas diferenças entre as regiões sul e norte. Conta-nos Marisa Bittar (1998) que as regiões cresceram separadas, sendo que um lado não conhecia o outro. A região norte identificada com a descoberta e extração do ouro pelos bandeirantes, com as usinas de açúcar e a extração da borracha, e detentora de uma cultura peculiar. A região sul era identificada com a pecuária e a erva-mate e com uma cultura influenciada pelos migrantes do sul do país e do Paraguai. Ela protagoniza com o Estado de São Paulo uma parceria econômica e política. Na economia criando gado que abastecia o país através dos paulistas, e politicamente aliando-se aos seus propósitos, demonstrado particularmente na Revolução Constitucionalista de 1932, quando somente os militares do sul do Mato Grosso apoiaram São Paulo contra as forças federais, inclusive as sediadas em Cuiabá.

&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp Os antecedentes históricos da divisão do território iniciaram em um movimento do final do século XIX. Conforme Hildebrando Campestrini e Acyr Guimarães (1991), a primeira tentativa de divisão foi em 1892, quando alguns revolucionários sediados na cidade de Corumbá criaram o partido Autonomista, reagindo ao poderio da região norte. Sentiam-se alijados do poder e submetidos aos projetos do norte. No período de 1900 a 1930, quando os coronéis eram mais fortes que o poder estatal, os sulistas não se uniram por conta de interesses próprios e o divisionismo não prosperou. O próximo movimento foi em 1932, quando durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo, os militares do sul de Mato Grosso criaram o efêmero Estado de Maracaju. Tal como os paulistas, foram derrotados pelas tropas do governo federal. Logo em seguida foi criada a Liga Sul-Matogrossense, a qual radicalizou o discurso divisionista, baseando-se em dados econômicos e históricos da região, divulgando-os por meio de manifestos que acusavam ser o norte opressor, de economia decadente e sustentados com a riqueza do sul. Esse radicalismo veio a criar dicotomias entre o sul e o norte: progresso e decadência modernidade e antiguidade civilizados e bárbaros prejudicando qualquer tentativa de unidade e estabelecendo uma rivalidade. Foram eles responsáveis por abaixo-assinados enviados aos constituintes em 1934 e 1946, na tentativa de convencê-los sobre a necessidade de criação do novo Estado, o que fora ignorado. A eleição do campo-grandense Jânio Quadros à presidência da República (1960) trouxe uma nova esperança a eles, mas o novo presidente defendia a integração e por conta do seu curto período no cargo não tiveram a oportunidade de convencê-lo do contrário. Bittar (1998) afirma que o movimento divisionista nesse período (1950 a 1970) estava enfraquecido porque as principais forças políticas (PDS e UDN e depois ARENA e MDB) dependiam dos votos de todos os eleitores do Estado, e assim evitavam a exploração desse tema. Não podemos esquecer nesse enredo a situação da cidade de Corumbá que ligada historicamente a Cuiabá pela linha de comércio fluvial, não se identificava com os campo-grandenses. Com a terceira maior população do Estado e com uma oligarquia política representativa, defendia até que deveria se tornar um terceiro Estado no grande Mato Grosso. Acabou, sob protestos do norte, tornando-se um município do Mato Grosso do Sul.

É importante apresentar dois aspectos importantes no século XX para a compreensão das motivações da divisão. O primeiro foi a chegada na região sul da estrada de ferro Noroeste do Brasil, que alterou o eixo de comunicação comercial entre o Centro-Oeste e o Sudeste, substituindo os rios por trilhos, já a partir da década de 1910. Com a mudança do eixo de transporte, a cidade de Cuiabá ficou isolada e passou a acompanhar o rápido crescimento da cidade de Campo Grande, que servia de entreposto comercial e um nascedouro de uma nova elite política. O segundo aspecto é demográfico e eleitoral. A região sul tornou-se mais populosa e da mesma forma detinha a maioria dos eleitores, e por conseguinte de deputados na Assembleia Legislativa Estadual e na Câmara Federal. De acordo com a pesquisa de Maria Manuela Renha de Novis Neves (2001), entre os anos de 1947 a 1962 foram eleitos 150 deputados estaduais, destes 55 eram nortistas e 95 eram sulistas. A mesma disparidade ocorria entre os deputados federais, sendo 15 nortistas e 21 sulistas. Ressaltamos ainda o fato de que dos 5 governadores eleitos entre 1947 e 1965, somente o Governador João Ponce de Arruda (1955-1961) era da região norte. De acordo como historiador Vinícius de Carvalho Araújo (2020), o norte chegou a ampliar o número de eleitores a partir das eleições de 1966, mas sem comprometer o sul na maioria do eleitorado. Percebe-se assim que a região sul sobrepunha o norte no âmbito econômico e político/eleitoral em Mato Grosso, e ameaçava Cuiabá com o permanente discurso de mudança da capital para Campo Grande.

&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp No ano de 1964 forças militares tomaram o poder no Brasil e traziam consigo novos estudos geopolíticos e a ideia de garantia da segurança nacional por meio da ocupação do território. Havia inclusive o lema “Integrar para não Entregar”, uma resposta aos discursos de nações estrangeiras a favor da internacionalização da Amazônia. Segundo Bittar (1998), o Presidente Ernesto Geisel afirmou que a prioridade em matéria territorial era ocupar a região da Amazônia e do Centro-Oeste, com atenção especial à situação de Mato Grosso. Araújo (2020) cita um estudo realizado em 1977 pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA) que apontava a criação de um novo Estado como um imperativo geopolítico por conta das suas dimensões, fronteiras transnacionais e riquezas em potencial. Percebe-se que foram os aspectos estratégicos nacionais que desencadearam a divisão do território mato-grossense e não pressões sulistas pela divisão ou capricho pessoal do presidente, como sugeriram alguns. Pode-se incluir a tentativa do governo militar em ampliar apoiadores do regime militar no novo Estado considerando que estaria finalmente realizando o grande sonho dos sulistas. Setores entendiam que haveria a necessidade de um plebiscito popular, mas entendo que esse instrumento democrático não era coerente ao regime ditatorial. Como percebemos, já havia uma divisão relativa às características e interesses de cada região, e sendo assim, bastava estabelecer oficialmente o que já era uma realidade inalterável. Por analogia temos o divórcio, o qual foi normatizado no Brasil naquele mesmo ano (1977). Já separados de fato, basta ao casal a oficialização, qual seja, o divórcio.

&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp &nbsp No dia 11 de outubro de 1977 políticos sulistas seguiram em dois aviões fretados para Brasília a fim de festejarem no Palácio do Planalto a assinatura da Lei Complementar nº 31 e ouvirem o discurso do Presidente Geisel. Da mesma forma partiram de Cuiabá alguns políticos para respeitosamente prestigiarem o evento. Os dois lados saíram de lá sabendo que em 1º de janeiro de 1979 seria efetivamente instalado o novo Estado e que seriam auxiliados financeiramente pelo governo federal. De acordo com Bittar (1998), no dia seguinte à assinatura da LC nº 31/77, o jornal campo-grandense Correio do Estado publicou uma matéria com o título: “Cuiabá recebeu a divisão em silêncio, foi o dia mais triste de sua história”. Mas foi mesmo um dia triste para Cuiabá? É o que veremos no artigo que será publicado no dia 13 de dezembro desse ano com as entrevistas realizadas com ex-vereadores e contemporâneos que viviam em Cuiabá.

&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp Aproveito para comunicar que a partir de hoje está disponível o e-mail [email protected]. Por este canal é possível interagir com a coluna Memórias do Legislativo Cuiabano.

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Autor:

Danilo Monlevade

Analista Legislativo da Câmara Municipal de Cuiabá

[email protected]

Fontes pesquisadas:

ARAÚJO. Vinícius de Carvalho. Paz sob fogo cerrado (1945-2002). 1ª Reimpressão. Cuiabá-MT: EdUFMT, 2020.

BITTAR, Marisa. Sonho e Realidade: vinte e um anos da divisão de Mato Grosso. 1998.

CAMPESTINI, Hildebrando &amp GUIMARÃES, Acyr Vaz. História de Mato Grosso do Sul. Campo Grande-MS: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1991.

Documentário: Divisão de Mato Grosso (1977). Produção e Roteiro de Onofre Ribeiro e Joel Leão (2000). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WnWR0BVl_wo

Lei Complementar nº 31 de 11 de outubro de 1977.

NEVES, Maria Manuela Renha de Novis. Leões e Raposas na Política de Mato Grosso (até 1978). Rio de Janeiro-RJ: Mariela Editora, 2001.

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Fonte: Câmara de Cuiabá – MT

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Secretaria Municipal de Saúde realiza força-tarefa de atendimento odontológico à pessoas em situação de vulnerabilidade social

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A Prefeitura de Cuiabá, através da Secretaria Municipal de Saúde. realizará ações de urgência na área odontológica para a população em situação de vulnerabilidade social. O trabalho começou neste sábado (30) e tem como objetivo, diminuir a dor, limitar danos como infecção, entre outros. A programação será executada também nos próximos sábados, 07 e 14 de dezembro, das 7h às 15h, no mesmo local, a Associação Terapêutica Ambiental e Acolhimento Paraíso (ATAAP), que abriga 150 pessoas em sistema de albergue. Quatro cirurgiões dentistas da rede municipal estão envolvidos no atendimento, sendo eles Sérgio Issao Yamada, Glaziellen Laura Carvalhaes Oliveira e Marcela Castello Branco Alves e Maricelia Arruda Silva, coordenadora da ação. Consultas médicas, exames laboratoriais e palestras também integram os serviços oferecidos. Na segunda-feira, 02 de dezembro, equipe do Programa Amor, da Secretaria Municipal de Saúde dará suporte coletando exames dos pacientes já para a entrega de resultados na próxima ação, dia 07 de dezembro.

A ação odontológica de urgência envolve extração de dentes, restauração, solucionar um incômodo do dente, uma dor, um curativo, e demais situaçõs pertinentes, uma vez que a demanda para estes serviços é grande. “O Atendimento de urgência visa levar mais qualidade de vida, para que a pessoa tenha uma melhora na sua saúde, tendo em vista que o tratamento odontológico é demorado. Então, uma vez que o paciente se senta na nossa cadeira odontológica para ser atendido, recebe o tratamento completo. Essa ação visa diminuir a dor, limitar danos como infecção, um foco de infecção maior, uma endocardite que pode se desenvolver. Às vezes, uma dor na perna, pode ser uma bactéria que entrou pelo dente e vai até o joelho. O motivo da iniciativa é reduzir danos e resulta positivamente para todos, inclusive para a administração pública. Com ações preventivas é possível evitar que evolua para casos mais graves”, explicou a coordenadora da ação e cirurgiã dentista Maricélia Arruda Silva.

Também é uma tentativa de fazer com que esses pacientes da região do CPA busquem atendimento no Posto de Saúde do CPA III, sem ter problemas com o deslocamento, ou seja, facilitar o caminho para eles. Muitos deles são atendidos na unidade odontológica do bairro Dom Aquino, onde Maricélia atende. “O difícil para eles é o acesso. Mostrar que se tiver unidade de saúde próxima a região onde moram o tratamento fica mais fácil”, pontuou a dentista.

Esse foi um dos motivos pela escolha da Associação Terapêutica Ambiental e Acolhimento Paraíso (ATAAP), situada no CPA III sediar os eventos. No local estão 150 albergados, mas varia até 200, uma vez que eles têm liberdade para entrar e sair, conforme as regras do local.

“Estamos em quatro profissionais para agilizar o atendimento. Consegui trazer três cirurgiões dentistas, todos do município, olha a vantagem da ação! Outra vantagem está sendo o apoio do Programa Amor, também da Secretaria Municipal de Saúde, que vai coletar os exames de todos os pacientes que foram consultados neste sábado (30) e os resultados serão entregues na próxima ação, dia 07 de dezembro, aqui mesmo na ATAAP”, comemora Maricelia.

O fator confiança conta muito em se tratando de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Para ter uma ideia, geralmente na primeira ação acontece de não atingir o público esperado, porque, devido a situação de vulnerabilidade social, precisam aceitar, adquirir confiança. A realidade vai mudando com a participação das primeiras pessoas, que vão interagindo e ganhando confiança e se encorajam para participar.

Há cerca de um ano quando começou a atender esses pacientes, Maricélia percebeu o descrédito. Na época, a unidade de saúde para tratamento era no Tijucal, o que dificultava muito o deslocamento, e os pretensos participantes achavam que não ia funcionar. Até mesmo no Dom Aquino é considerado longe para a maioria.

“O objetivo com as ações é mostrar que quanto mais próxima a unidade de tratamento estiver desses pacientes, mais eles vão aceitar e aderir aos serviços oferecidos. Com isso vamos evitar filas em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), filas nas Unidades Básicas de Saúde com urgência de dor de dente. Porque, além de trabalharmos o dia a dia, desenvolvemos o trabalho na promoção de saúde, o consultório na rua faz isso, conversa, mostra para eles que podem fazer uma higienização onde estiverem, ali mesmo na rua”, relatou a dentista.

O programa funciona desde a abordagem local, seja na rua ou no albergue, é conhecida a realidade do paciente e o motivado ao atendimento odontológica. Vamos além de uma restauração, extração. O trabalho é de desenvolvimento emocional, de melhoria de qualidade de vida. Já foram inúmeros atendimentos realizados, é um trabalho de formiguinha porque o paciente precisa confiar, dar credibilidade ao grupo e começa a vir. Essa transformação da mentalidade começa desde a abordagem, palestras, entrega de kits de higiene.

Aparecido Carvalho Santos, 52 anos, esteve entre os atendidos deste sábado, ele gosta do acolhimento e do serviço. “É muito bom, é a segunda vez que venho em busca do tratamento. Se não tivesse esse recurso seria muito difícil, não teria dinheiro para pagar”, disse.

O coordenador da ATAAP, Paulo Santos e a Assistente Social do local, Pâmela Aguilera acompanharam os serviços. Na oportunidade, Pâmela avaliou que trabalhar com as pessoas em situação de vulnerabilidade social é um grande aprendizado, ela ajuda a cuidar dos 150 albergados. “É um trabalho desafiador, mas extremamente importante. Eles fazem a gente fugir um pouco do nosso mundinho, da nossa bolhinha e entender que as pessoas precisam um pouco mais de atenção, um pouco mais de cuidado. A maioria não tem família, tem muitos deles que são idosos abandonados pela família, tem também os que foram criados na rua desde adolescente, outros egressos do sistemas prisional, enfim, a questão social é gigantesca aqui dentro. São pessoas que até tentam, mas não encontram oportunidades e buscamos a reintegração deles na sociedade, com a oferta de emprego”.

Novembro Azul x Dezembro Vermelho

As ações voltadas para o atendimento odontológico serão desenvolvidas numa sequência de três sábados: 30 de novembro, 07 e 14 de dezembro. Neste primeiro dia (30), como ainda dentro do mês de prevenção ao câncer de próstata, campanha do Novembro Azul, foi explanado sobre o tema, levando informações e esclarecimentos. Nas edições seguintes, o assunto envolverá doenças sexualmente transmissíveis (IST/AIDS), que é o lema do Dezembro Vermelho.

Para a cirurgiã dentista Marcela Castello Branco Alves, o trabalho de levar a saúde a população é sempre uma oportunidade de restabelecer a saúde, a estética, o sorriso, autoestima e a qualidade de vida de um modo geral. “A gente se dedica a saúde da população, e é sempre muito bom poder levar isso, dar acesso a quem precisa. Como servidor público, nosso dia a dia é esse, sempre em contato com a população para restabelecer a estética, o sorriso”, explicou.

Fonte: Prefeitura de Cuiabá – MT

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